O Museu Pergamon
Altar do Museu Pergamon |
O Museu Pergamon (Pergamonmuseum, em alemão) é a principal instituição da Ilha dos Museus, em Berlim, Alemanha. Está dividido em três departamentos: a Coleção de Arte da Antiguidade Clássica, onde se destacam o fabuloso Pergamonaltar (Altar de Pergamon) e as Portas do Mercado de Mileto, bem como excelentes exemplares de escultura grega e romana; o Museu do Antigo Oriente Próximo, com diversos objetos provenientes da Antiga Babilônia e da Antiga Suméria, onde se sobressai a Porta de Ishtar; e o Museu de Arte Islâmica, com destaque para a Fachada de Mshatta, um palácio do século VIII descoberto na atual Jordânia, bem como excelentes exemplares de artes decorativas islâmicas. O museu é visitado por cerca de um milhão de pessoas todos os anos.
Inicialmente, os itens encontrados no Pergamon eram exibidos na rotunda e salões do Altes Museum, construído com planejamento de Fritz Wolf, e inaugurado em 20 de dezembro de 1901, mas que foi utilizado somente até 1908. O novo edifício do museu, desenhado por Alfred Messel, começou a ser construído em 1920, antes da primeira Guerra Mundial. Contudo, seu término atrasou-se por mais de 20 anos, até 1930, por causa da guerra, do conturbado período pós-guerra e da inflação.
Após inúmeras discussões internas, o plano para o novo edifício do museu foi desenhado por Wilhelm Von Bode. Inicialmente, seu principal foco de interesse era um "Museu Alemão" da arte da Europa Central que abarcasse até a era barroca, como uma extensão do Kaiser Friedrich-Museum (agora chamado de Bode Museum, ou Museu Bode). Mas essa ideia não vingou, prevalecendo a arte da Antiguidade Clássica. Juntamente com achados antigos de escavações, as três alas do edifício foram também destinadas a abrigar culturas antigas orientais e, posteriormente, arte islâmica.
Entretanto, o conceito estético para exposições e arquitetura mudou fundamentalmente desde o fim do império germânico. Os espaços originalmente elaborados foram substituídos por um simples desenho do interior, que beneficiou particularmente os espaços das antiguidades. O plano Messel também abandonou a ideia de expor inteiramente a base do altar, em favor de uma efetiva apresentação do Altar de Pergamon. Somente a frente ocidental com o lance de escadas - agora completo - foi erguido no amplo salão da entrada.
Assim, quando os visitantes entram, eles podem ver a imponente frente da escadaria com um só olhar. As seções dos frisos dos outros lados foram espalhadas, e o pequeno friso Telephos teve sua própria sala e está localizado corretamente com relação à topografia, indicado abaixo e detrás da escadaria.
Porta de Ishtar |
As coleções
Por mais de 300 anos têm sido colecionadas antiguidades em Berlim, e há 183 anos são expostas antiguidades clássicas no Museu Antigo. Há cerca de 150 anos chegaram a Berlim as primeiras antiguidades de grande formato do Oriente Médio. Após a conclusão da última restauração de edifícios históricos do Patrimônio Cultural da Humanidade em Berlim, é possível analisar o legado arqueológico da Mesopotâmia e do Egito, da Grécia e de Roma, e de suas culturas herdadas até as de nossos dias. Graças a um plano engenhoso, desde então os visitantes podem admirar as obras-primas da coleção de antiguidades clássicas de Berlim, as do Museu do Oriente Médio e as do Museu de Arte Islâmica.
O Museu Pergamon é o mais popular dos museus berlinenses e, por suas dimensões imponentes, o edifício principal da Ilha dos Museus. A Coleção de Antiguidades inclui tanto as obras centrais do Pergamon, com destaque para o friso do Grande Altar de Pergamon, escavado por arqueólogos alemães na Turquia e reconstruído em Berlim, como algumas peças de grande valor expostas no Museu Antigo. Não obstante, o Museu do Oriente Próximo guarda, reconstruído a partir de centenas de milhares de fragmentos de ladrilhos,
as paredes suntuosamente decoradas das monumentais muralhas da Babilônia. Assim, os visitantes sentem que o universo arqueológico berlinense é muito mais vasto do que sugere o nome "Museu Pergamon", e também passam a considerar o histórico dessas coleções.
Elas se originam do inventário das Câmaras de Tesouros Artísticos dos príncipes eleitores, algumas das quais incluíam achados arqueológicos provenientes das conquistas alemãs. Após a aquisição de uma grande coleção de antiguidades romanas, foi fundado em 1698 um Gabinete de Antiguidades no palácio da cidade de Berlim. Importantes obras antigas adornavam os palácios de Potsdam no século XVIII. Em 1830 as melhores peças dessa coleção foram levadas para o Museu Antigo na praça Karl Friedrich Schinkel. O desejo de expor a série evolutiva da arte antiga da forma mais abrangente possível, determinou a atividade colecionista dos museus reais da Prússia durante o século XIX. Logo vieram as grande escavações na Grécia, Turquia e no Oriente Próximo. O Museu Antigo de Schinkel ampliou-se com o Neues Museum (Museu Novo), de seu discípulo Friedrich August Stüler, pois em 1930 - cem anos depois da inauguração do Museu Antigo - pôde-se inaugurar o Museu Pergamon.
O edifício do Museu Novo abriga, então, três museus nos quais você pode estudar a história da cultura da Mesopotâmia e dos seus países vizinhos, bem como as influências do Antigo Oriente nas civilizações posteriores da antiguidade e no Islã.
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Em 1939, o museu fechou devido à guerra. Membros da Juventude Hitlerista ajudaram a proteger o Altar de Pergamon com sacos de areia. Depois do começo dos bombardeios em Berlim, os relevos foram removidos em 1941, e posteriormente, armazenados em um abrigo antiaéreo perto do zoológico de Berlim. De lá, eles foram levados pelo exército vermelho para Leningrado e lá ficaram até o fim da guerra como "arte pilhada", juntamente com outras obras de arte de Berlim.
Com um imenso programa de grande escala promovido pela União Soviética para o retorno de arte ao "estado irmão socialista da GDR", os relevos do Altar de Pergamon também voltaram para seu lugar original no museu, em 1958. Depois que seu reerguimento foi concluído com grande compromisso em um ano, não deixando tempo para estudos científicos ou novos conceitos, o museu estava mais apto a reabrir com o um todo, uma vez mais. O nome "Pergamon Museu", usado inicialmente para a seção central das salas de antiguidades, foi então dado pelos berlinenses a todo o "novo" edifício do museu.
Nos anos seguintes, a descoberta de dois fragmentos de frisos fechou substancialmente espaços no friso gigante. Eles tinham sido parte da antiga coleção de antiguidades pertencente a Thomas Howard, o segundo Conde de Arundel (1580-1646). Depois da dissolução e venda da Coleção Arundel, eles foram usados para a decoração do jardim de uma casa. Somente entre 1961 e 1971 eles foram reconhecidos pelo arqueologista Denys Haynes como fragmentos do friso do Altar de Pergamon .
Depois da reunificação alemã, os estoques de coleções de antiguidades foram também reunidos entre 1992 e 1996. A Guerra e a transferência da obra levaram a danos e perdas do grande Altar de Pergamon. O antigo trabalho de restauração, datado do século XX, também causou problemas. Entre 1994 e 1995, os pedaços do friso Telephos foram restaurados inicialmente e, então, uma pequena seleção foi mostrada em Nova Iorque, São Francisco (museus que haviam dado suporte financeiro ao projeto) e em Roma.
O trabalho de manutenção dos 133 metros do friso gigante, que ofereceu uma oportunidade única de remontagem da antiga reconstrução em consonância com o estado da arte, acrescentando fragmentos recém identificados, custou mais de três milhões de Euros, e a restauração completa do friso foi aberta ao público em 10 de junho de 2004.
Museu do Oriente Próximo
A Porta de Ishtar e o Caminho das Procissões da Babilônia gozam de fama mundial como partes de uma das Sete Maravilhas da Antiguidade: as muralhas da Babilônia. Essas excepcionais reconstruções arquitetônicas que estão guardadas no Museu do Oriente Próximo constituem, junto com o Altar de Pergamon, as principais atrações para os mais de um milhão de visitantes anuais do Museu de Pergamon. São provenientes de escavações alemãs na Mesopotâmia em princípios do século XX.
Pelo volume das peças, somente é possível apresentar algumas obras-primas escolhidas das culturas do Antigo Oriente. Para se ter uma ideia completa da coleção é essencial uma visita, ou seja, uma imersão pessoal no contexto da exposição. Não foi fácil selecionar obras da arquitetura monumental, com suas representações zoomórficas de touros, dragões, serpentes e leões representando o mundo dos deuses da Mesopotâmia, ou entre as estátuas de oradores e figuras de sacerdotes daqueles primeiros tempos. Também, os retratos de reis assírios dos séculos II e I a. C. sobre pedestais de culto, os relevos de parede (de dimensões sobrenaturais) ou as estelas de triunfo transmitem uma profunda impressão do mundo do Oriente Antigo.
O Museu do Oriente Próximo é o único do seu tipo que, além dos achados na Babilônia, também exibe mostras de grandes cidades da Mesopotâmia, como Uruk, cidade do lendário herói de Gilgamesh, e de Assur, capital do Império Assírio. Vê-se, assim, que em Berlim não está representada apenas a antiga Mesopotâmia: o espectro vai desde obras-primas de antigos reinos da Turquia oriental até o império persa. Cronologicamente, a Coleção do Oriente Próximo, com mais de 100 mil objetos, abarca um período que vai desde o VI milênio a.C. até o começo do I milênio d.C.
Museu de Arte Islâmica
É provável que, junto à expansão do império islâmico, seus artistas ganhassem a admiração do Ocidente e despertassem a cobiça por suas obras. Graças à nova qualidade de seus projetos, à solidez com que dominavam a técnica de materiais, suas inovações formais e sua aura de luxo tanto em obras de formato maior como menor, as obras desses artistas eram cobiçadas como relíquias e objetos de valor para as câmaras de tesouro. Inclusive a arquitetura islâmica provocou um efeito estimulante em muitas formas arquitetônicas concretas e em sua ornamentação. Os impérios anteriores, que sucumbiram ao novo califado islâmico depois da morte do Profeta em 632, provocaram uma transformação artística e cultural que fez nascer novas inspirações. Em alguns campos foi este um processo gradual, como no estilo decorativo de edifícios e objetos. Na caligrafia, produziu-se uma brusca ruptura. Também, iniciou-se uma busca de novas fontes de inspiração, como os motivos e técnicas da Ásia Oriental. Foi o caso da cerâmica, área em que se desenvolveram tecnologias sofisticadas como a pintura esmaltada e a delicada porcelana de forno.
As coleções de arte islâmica antiga continuam fascinando ainda hoje os visitantes do museu de Berlim, que presta especial atenção para a excelência e valor artístico desses objetos. A qualidade das peças adquiridas, em especial as centenas de objetos da coleção de Friedrich Sarre, adquiridas em numerosas viagens, com grande conhecimento de historiador de arte, surpreendem pelo seu tamanho e amplitude dos elementos arquitetônicos, que colocam o museu a par com as outras duas grandes coleções do Museu Pergamon.
O Grande Altar e seus frisos
Mesmo na antiguidade, o Altar Pergamon já era visto como um monumento notável, comparável às maravilhas do mundo naquela época. Apesar disso, somente poucos registros escritos sobre o altar sobreviveram. Mas, na era do Império Romano, no reino de Septimius Severus (que reinou de 193-211 a.C.), uma moeda de bronze estava cunhada com a frente oeste do Altar de Pergamon no lado reverso.
Contudo, é geralmente aceito hoje que esse altar foi construído durante o reinado do rei Eumenes II (197-159 d.C.). Além disso, novos achados arqueológicos indicam os anos 70 do segundo século d.C. como o tempo em que começou a construção. Eumenes II sofreu um atentado em Delphi, em 172 d.C.., instigado pelos seus inimigos, em uma situação muito perigosa para ele e para a sobrevivência de sua dinastia Attalid. Sobrevivendo, a construção do Grande Altar significou uma oferta votiva aos deuses como gratidão à proteção dada ao rei e a sua dinastia.
A decoração pictórica do Grande Altar difere significativamente em seus objetivos dos conhecidos monumentos dos Attalidas no santuário da cidade de Atenas, não podendo ser interpretada como um monumento a uma vitória militar específica nas numerosas batalhas entre os pergamenes contra outros reis helenísticos e os imigrantes gauleses. A finalização ou a descontinuidade do trabalho do Grande Altar, inacabado, pode ser possivelmente explicado pela morte de Eumenes II, no ano de 159 d.C.
Indicações da existência de um culto a Zeus na acrópole de Pergamon e a direção do Grande Altar para o ponto mais alto do Templo de Atena Nice, juntamente com os notáveis grupos de guerreiros com Zeus e Atena no friso leste, levaram ao entendimento de que o Grande Altar foi dedicado ao pai dos deuses ou a Zeus e a Atena juntamente, embora alguns acreditem que sua consagração incluía todos os deuses.
O Altar de Pergamon foi construído em local rochoso, onde já haviam edificações na encosta sul do Monte Acrópolis, abaixo do santuário de Atena. A área foi refeita para formar um grande terraço. Nesse local, o altar quadrado praticamente foi construído para que sua frente ocidental estivesse alinhada com a maior altura do Templo de Atena. As fundações da construção consistiram em rocha vulcânica local, uma parede engradada de blocos de tijolos na qual os espaços foram preenchidos por pedaços de ruínas de construção, e uma cobertura de mármore importado, branco com veios cinza, e mármore cinza azul-escuro da ilha de
Lesbos. O mármore foi transportado por mar e teve de ser carregado em terra até o local da construção no Monte Acrópolis, com 335 metros de altura.
A parte mais baixa do altar consistia em uma base de quatro andares, um podium baixo, com uma borda moldada e uma frisa de dois metros de altura, com deuses e gigantes, a qual era circundada por um complexo alicerce com uma cornija jônica. O conjunto tinha 5,92 metros de altura. No lado oeste, um amplo lance de degraus talhado na base levava ao pátio do altar.
Os painéis individuais de mármore do friso da base, no total de 113 metros de comprimento, foram colocados no lugar como blocos. No pátio, pavimentado por pedaços de mármore, ficava o altar de sacrifício com fogo, encimado por uma cornija ricamente decorada. Uma moeda datada da época romana mostra um grande dossel suportado por colunas e dobrado sobre o altar de sacrifício. Essa parte mais sagrada da construção era certamente acessível somente para um seleto número de pessoas.
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A descoberta do Altar Pergamon
Entre 1864 e 1865, o engenheiro alemão Carl Humann, que estava trabalhando em um projeto de construção de estrada na costa ocidental da Turquia, esteve em Pergamon visitando as ruínas do Monte Acrópolis, que até o momento não haviam sido sujeitas a investigações arqueológicas. Ele encontrou fragmentos do relevo. A convite de Humann, o classicista e arqueólogo Ernst Curtius e outros pesquisadores alemães visitaram Pergamon durante uma viagem feita à Ásia Menor em 1871. Como resultado, contatos posteriores com os museus de Berlim se desenvolveram. Humann também enviou dois fragmentos do friso, - que ele identificou como "batalha com homens, cavalos e animais selvagens" - a Berlim, onde, inicialmente, não causaram maior interesse. Seu significado só foi descoberto por Alexander Conze, nomeado Diretor da Coleção de Esculturas do Royal Museum (Museu Real), em Berlim, em 1877.
Juntamente com Richard Schöne, Diretor-Geral dos Museus de Berlim, Conze obteve do governo prussiano o necessário suporte diplomático e financeiro para os trabalhos de escavação. Acima de tudo, obteve o suporte da família imperial alemã, para quem essa descoberta sensacional possibilitou um enorme significado a sua reputação cultural.
Depois que o Ministro da Educação turco deu seu consentimento para as escavações, Humann começou o trabalho arqueológico na montanha de Pergamon, com quatorze trabalhadores, em 9 de setembro de 1878.
As maiores construções da acrópolis foram escavadas durante os períodos de 1878-1880, 1880-1881 e 1883-1886. O trabalho resultou não somente na descoberta de grandes partes da decoração do relevo e da arquitetura do mármore do Grande Altar, mas também no desenterramento de suas fundações.
Por intermédio de atividades diplomáticas subsequentes e a troca por outros achados importantes, os museus de Berlim foram capazes de adquirir quase todos os fragmentos do friso do Grande Altar. Sua reconstrução, feita por arqueólogos, historiadores e arquitetos, foi seguida por muitos anos de um trabalho de restauração, durante os quais escultores como os italianos Antonio Freres e Temistocle Possenti juntaram milhares de fragmentos, completando-os para formar novamente o Altar de Pergamon.
Estátua de um orador – Alabastro, 2.400 a.C. Encontrada nas ruínas de um templo arcaico de Ishtar em Assur. Alt. 46 cm. Acervo do Museu do Oriente Próximo. |
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