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O mercado de arte e suas complexidades

Por Ricardo Kimaid

Experimento uma agradável sensação ao constatar que o ano de 2012 inicia-se de forma auspiciosa para o mercado de arte, quer pelo fato de se ter notícias que os primeiros leilões de arte foram coroados de pleno êxito, e, mais ainda, pelo fato de haver sido resgatado a procura e negociações com obras de artistas clássicos e modernos, atingindo cifras expressivas de valorização.
É alentador saber que os colecionadores tradicionais estão vivos e presentes, comparecendo nas disputas pelas obras que outrora foram executadas por nossos ícones da pintura brasileira. É alentador ver, por exemplo, um leilão apregoar nada menos que dezessete Castagnetos, e vende-los todos, e muito bem, superando qualquer expectativa otimista, não só pela quantidade dessas obras do mesmo artista, mas, sobretudo, pelos altos valores alcançados.
Apesar do mercado de arte estar mais focado no que atualmente chamam de arte contemporânea, não quer dizer com isso que os demais segmentos percam seus status, principalmente daqueles artistas consagrados historicamente. O modismo é efêmero, e arte nunca foi e nunca deverá ser de modismos.
Independente de qualquer rótulo que seja dado às técnicas ou tendência nas artes plásticas, se torna imperioso que suas origens estejam embasadas por históricos que resistam a uma análise criteriosa de quem tenha erudição reconhecida.
Daí a insistência, de minha parte, chamando sempre atenção dos apreciadores, colecionadores e profissionais do mercado, para não se deixarem levar por essas correntes passageiras, cujo saldo em breve tempo será apenas um limbo de substratos. Repito que, embora o mercado de arte seja altamente exposto a todos os tipos de especulações, oriundos de correntes não qualificadas para ditar posições, sua estrutura cultural é inabalável ao longo da história, e seus desvios serão dispersos no tempo, prevalecendo os pilares que o fundamentou.
Cito alguns exemplos que confirmam esse conceito: nomes dos idos de 50 e 60, que hoje estão sendo reconhecidos como artistas contemporâneos, muito mais contemporâneos do que os artistas que atualmente reivindicam esse rótulo. Se na década de 50 e 60 foram contemporâneos, como classificá-los agora? A procura de denegrir obras e artistas do passado é pura artimanha de aventureiros despreparados e sem a mínima cultura para diferenciar o que é isca e o que é engodo. A prova maior disso é a ascensão natural que está acontecendo com os artistas que até recentemente estavam engavetados: Antonio Maluf, Rubem Ludolf, Lothar Charoux, Mario Silésio, Décio Vieira, Ubi Bava e Zaluar, são alguns desses casos. Espero ver muitos outros ascender nesse mercado, pela história de sua participação, qualitativa e representativa, nos movimentos pontuais a que se propunham em trazer algo de novo para a o fascinante mundo das artes plásticas brasileiras.
O mercado de arte pode e deve estar aberto a novos valores, novas caligrafias e novas perspectivas. O mundo evolui, e ampliam-se as culturas, mas que nunca se abra mão da seriedade que se faz necessária, pois invariavelmente uma obra de arte acaba por se tornar em um ativo financeiro, e dependendo do seu histórico pode ser auspicioso, ou simplesmente uma decepção para quem adquiriu.
Dito isso, quero reiterar aos apreciadores da nobre arte que não se descuidem; não sejam influenciados por manobras especulativas, que tem por objetivo transformar pastiches em ativos. Desconfie sempre de quem vende arte como investimento patrimonial. Arte é investimento sim, mas cultural, que quando bem orientado na sua aquisição, pode se transformar em investimento patrimonial, mas a médio e longo prazo. 

Ricardo Kimaid - www.rembrandt.com.br

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