Segredos de um povo
ancestral africano pelo olhar de um brasileiro
apaixonado por Angola e sua gente
Dono de um dos mais
completos acervos de imagens da cultura angolana, o renomado
fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra exibe no Rio de Janeiro um
panorama minucioso de suas expedições ao país africano, mais
propriamente de seus registros dos hereros, o mais antigo grupo
étnico do continente.
Com curadoria do
artista plástico e diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, a
bem-sucedida "Hereros - Angola", originada do livro
homônimo do artista (Editora Maianga, 2010) aporta no Museu
Histórico Nacional, de 12 de abril a 08 de julho.
Visto por mais de 185
mil pessoas em São Paulo e Brasília - com passagens também por
Lisboa e Luanda -, o painel apresenta 120 fotos em diversos formatos
acompanhados por uma cenografia repleta de vestimentas, adereços e
objetos de uso tradicional e ritualístico da etnia, traçando um
amplo registro de seu modo de vida e tradições.
Fruto da paixão que o
fotógrafo desenvolveu pela cultura do país africano, quando ficou à
frente da comunicação do governo angolano, há mais de 15 anos, a
exposição traz ainda depoimentos em vídeo colhidos entre homens,
mulheres e jovens hereros sobre a sua cultura. O repertório de
imagens e sons reunidos na mostra levam o espectador ao universo da
etnia, composta por pastores de hábitos seminômades, que são
exemplo da perpetuidade e resistência de uma economia e cultura
ancestrais ameaçadas pelo acelerado processo de modernização e
ocidentalização dos países do continente, assim como pela
devastação da guerra civil que assolou o país por décadas.
Através da iconografia, registros materiais e multimídia sobre o
povo herero, sua tradição e seus rituais, a mostra, que tem
patrocínio da Unitel (empresa de telefonia móvel de Angola),
contribui para o conhecimento da nossa ascendência africana e da
formação social e etnológica de nossa gente.
Os hereros
Os hereros fazem parte
de uma expansão Bantu de cultura pastoril e hoje vivem entre a
Namíbia, Angola e Botsuana. Chegaram ao atual território de Angola
por volta do século XV, e ocupam hoje a região semidesértica de
pastagens naturais, mas de chuvas escassas e breves, das províncias
do Cunene e Namibe, no Sudoeste de Angola. Toda a sua vida cultural
se constrói com referência à sua relação com o boi e com o meio
circundante.
Em Angola, durante toda
a primeira metade do século passado, os hereros sofreram a
perseguição das autoridades coloniais, que os forçou a trocar o
gado e o nomadismo pela agricultura e uma vida sedentária.
Resistiram ao encalço e ao degredo, retomando as suas tradições
ancestrais.
Na Namíbia, resistiram
à escravidão e se opuseram à dominação alemã, ação que os
tornou vítimas de um dos maiores genocídios da história. Em 1904,
o general Lothar von Trotha ordenou as tropas alemãs ao cumprimento
de uma "ordem de extermínio" e dizimou cerca de 80 % da
população dos hereros.
Na convivência com os
hereros, o fotógrafo percebeu que os próprios angolanos sabiam
muito pouco sobre essa etnia e sequer conseguiam distingui-los.
"Descobri que, para além da minha atração por estes povos,
poderia ser útil, de alguma maneira, se pudesse partilhar com um
número maior de pessoas tudo aquilo que me foi dado a conhecer sobre
eles".
O autor
Fotógrafo,
publicitário e produtor cultural, Sérgio Guerra nasceu em Recife,
morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até se fixar na Bahia nos
anos 80. A partir de 1998, passou a viver entre Salvador, Rio de
janeiro e Luanda, onde desenvolve um programa de comunicação para o
Governo de Angola. Em suas constantes viagens pelo país, testemunha
momentos decisivos da luta pela paz e reconstrução, constituindo um
dos mais completos registros fotográficos das 18 províncias
angolanas. Seu acervo fotográfico propiciou a publicação dos
livros 'Álbum de família', 2000, 'Duas ou três coisas que vi em
Angola', 2001, 'Nação coragem', 2003, 'Parangolá', 2004, 'Lá e
Cá', 2006, 'Salvador Negroamor', 2007, 'Hereros-Angola', 2010 e e a
montagem das exposições 'As muitas faces de Angola' - Brasília
(Congresso Nacional), Salvador (Shopping Barra), São Paulo (Centro
Cultural Maria Antônia), 2001; 'Nação Coragem' - São Paulo (FNAC
Pinheiros, 2003), Zimbabwe (HIFA, Harare International Festival Arts,
2008); 'Lá e Cá' - realizada na Feira de São Joaquim, a maior
feira livre da América Latina. Salvador, 2006; 'Salvador Negroamor'
- toda ela dedicada às pessoas que vivem na periferia da cidade,
destacou-se como a maior exposição fotográfica a céu aberto que
se tem registro até hoje, com aproximadamente 1500 painéis
espalhados na cidade, Salvador, 2007; 'Mwangole' - Salvador (Galeria
do Olhar, 2009).
O curador
Emanoel Araújo é
escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e
museólogo, nascido em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, a 15
de novembro de 1940. Em Salvador, formou-se em Belas Artes e foi
diretor do Museu de Arte da Bahia. Lecionou artes gráficas, desenho,
escultura e gravura na City College University of New York. Em
Brasília, foi membro da Comissão dos Museus e do Conselho Federal
de Política Cultural, instituídos pelo Ministério da Cultura. Já
em São Paulo, foi Secretário Municipal de Cultura, e Diretor da
Pinacoteca do Estado, onde liderou uma gigantesca reestruturação
nos anos 90, transformando o prédio em um dos principais museus do
país e um dos roteiros turísticos culturais da cidade.
Emanoel Araújo é
considerado um extraordinário escultor e já realizou várias
exposições individuais e coletivas por todo o Brasil, Europa,
Estados Unidos e Japão. Como não podia deixar de ser, recebeu
diversos prêmios em todas as técnicas trabalhadas. Suas obras
tridimensionais se destacam pelas grandes dimensões, pelos relevos e
pela formas integrantes nas edificações urbanas. Seu estilo - mesmo
sendo único - dialoga com movimentos artísticos de toda a história,
mas sempre com ênfase nos detalhes que descrevem e valorizam as
características africanas. Hoje, é Diretor Curador do Museu Afro
Brasil, do qual foi idealizador e doador de grande parte do acervo.
Serviço
Exposição: Hereros
Local: Museu Histórico
Nacional
Endereço: Praça
Marechal Âncora, s/nº - Rio de Janeiro
Visitação: de 3º a
6º feira, das 10h às 17h30 e aos sábados, domingos e feriados das
14h às 18h. Ingresso: R$ 6,00 (seis reais). Aos domingos, a entrada
é franca.
Telefone: 21-2550-9220
Nenhum comentário:
Postar um comentário