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Revolta na Escola Guignard

"O processo desta Escola é contrário ao do detestavelmente acadêmico que consiste em jogar ao certo e, assim ganhar a vida". (Mario de Andrade)
"Esta é a melhor Escola de Arte do Brasil". (Candido Portinari)


A Comunidade Acadêmica da Escola Guignard/UEMG está unida contra a Lei Municipal 10331, de 15/12/ 2011, que transfere a propriedade do terreno onde está sediada a Escola Guignard à Universidade do Estado de Minas Gerais, e revoltada com a decisão do reitor da UEMG, Prof. Dijon de Moraes Junior, que pretende transferir a sede da Escola Guignard para outro prédio a ser construído no terreno do Campus da UEMG na Cidade Nova, que na avaliação da comunidade acadêmica, não é adequado e dimensionado para o bom funcionamento da Escola.
O terreno em que a Escola foi construída (na época ainda Fundação Escola Guignard) foi cedido pela prefeitura através do Decreto Municipal 6196 de 23/12/1988, com a única e exclusiva condição de sediar a escola de artes por tempo indeterminado. Esta destinação exclusiva, entretanto, não foi mantida no novo decreto e é, por isto, motivo de luto da comunidade acadêmica, que está estarrecida pela forma como o reitor relata o fato, como sendo a materialização dos anseios desta instituição, que, ao contrário disso, jamais foi informada de sua proposição e/ou tramitação da referida lei.
O plano imposto pelo reitor consiste em transformar a sede atual da Escola Guignard em um Centro Cultural da UEMG, que herdaria além do prédio da instituição, todo o seu valioso acervo artístico. A Escola deveria deixar para trás, segundo o depoimento do Reitor à comunidade, além de seu atual prédio, também todo o acervo artístico, obtido pela doação de obras de arte de Guignard, incluindo outros artistas professores e alunos como Franz Weismann, Amilcar de Castro, Sara Ávila, Farnese de Andrade, Edith Behring, Maria Helena Andrés, Lotus Lobo, Paulo Laender, e tantos outros que passaram pela história desta instituição e compartilhar com toda a UEMG seu auditório e sua galeria, com 17 anos de existência e formação de público cativo.
A Escola Guignard foi fundada em 1944 pelo então Prefeito Juscelino Kubitscheck em seu projeto de trazer modernidade à capital mineira. A sede da Escola Guignard é fruto da luta de meio século de sua comunidade acadêmica e, de maneira especial, de seus artistas/professores. Localizada na Rua Ascânio Burlamarque, 540, no valorizado bairro Mangabeiras, a sede da Escola Guignard teve sua pedra fundamental lançada em maio de 1990. Esse terreno foi, portanto, cedido pelo Município e pela construtora COMITECO, que criou o bairro Mangabeiras, através do já citado decreto municipal 6196, com o fim exclusivo de sediar a Escola. A construção se deu antes da incorporação da Escola Guignard pela recém criada UEMG, em 1994.
O prédio da Escola Guignard/UEMG, além de bem localizado, é obra arquitetônica do importante arquiteto Gustavo Pena, que representa um marco na arquitetura mineira tanto por sua forma quanto pelo sistema construtivo inovador. Segundo depoimento do arquiteto ao Diretório Acadêmico da Escola, a edificação foi concebida a partir do diálogo com as proposições conceituais de um de seus mais ilustres diretores, o escultor e designer de referência fundamental para a arte e para as artes gráficas brasileiras, professor Amilcar de Castro.
Essa sede e esse acervo constituem a materialização da identidade da Escola Guignard, identidade esta construída e conquistada ao longo do tempo pelo esforço empreendido na continuidade do trabalho proposto por seu fundador, o artista Alberto da Veiga Guignard, cujo falecimento completará 50 anos em 2012.
A comunidade acadêmica luta para que seja ouvida pela atual administração e democraticamente respeitada em seu anseio de que o novo prédio na Cidade do Conhecimento, que é bem vindo, possa ser repensado de maneira a se integrar à sede atual da escola e ao seu plano de metas, como espaço para ampliação, de maneira a somar e não a subtrair conquistas.
O projeto para o novo prédio no Campus da Cidade do Conhecimento apresentado pela reitoria, além de ter uma forma arquitetônica sem identidade com a Escola Guignard, na avaliação da comunidade acadêmica, não é adequado e dimensionado para o bom funcionamento da Escola.
A Escola Guignard/UEMG com tudo que engloba desde sua fundação em 1944, não foi ouvida previamente e nem fez opção para dispor de sua sede própria e de seu acervo que constituem a materialização de sua identidade, resultado de um processo histórico de anos de luta, que deve ser respeitado e preservado como herança cultural e histórica, patrimônio da cultura mineira. Transformá-la agora em um Centro Cultural para a referida UEMG, não é obviamente uma decisão democrática.

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