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Caxemira: A Joia do Himalaia


Paisagem de Caxemira


Uma das maiores figuras da história da Índia, foi o Grão-Mogol Jahangir, filho de Akbar, o Grande, e pai de Shah Jahan, o construtor do Taj Mahal. Em 1628, durante uma de suas viagens anuais para passar o verão no clima revigorante da cidade de Srinagar (capital da Caxemira), Jahangir ficou gravemente enfermo. Como todos acharam que iria morrer, os ministros da corte perguntaram então ao soberano qual o seu último desejo. E ele disse apenas: "Caxemira, somente Caxemira!"
Obra prima de Deus, Caxemira - com suas montanhas cobertas de florestas e coroadas pela neve dos Himalayas, com seus rios de águas límpidas, seus lagos que refletem a maravilhosa paisagem e seu delicioso clima - deve parecer a versão terrestre do Paraíso aos habitantes da planície do Indo e do Ganges, onde a temperatura no verão sobe bem acima dos 40 graus, sobretudo em Mumbai, Nova Delhi e  Calcutá. O nome Caxemira tornou-se sinônimo de tecido da alta qualidade, devido à lã de caxemira produzida a partir das cabras nativas, tornando o local conhecido internacionalmente.
A magia de sua paisagem sempre atraiu os grandes da terra hindu - dos mongóis a Nehru - como também os oficiais da administração inglesa na época colonial ou os turistas de hoje.
Caxemira ("Kashmir", em sânscrito, significa "terra sem água" ou terra desidratada,), é o mais setentrional dos estados indianos, ficando mais ao norte do que o Nepal ou o Tibet. Ali, onde o pico Nanga Parbat se eleva a 8.100 metros de altitude, começa a grande curva do Himalaia, que depois continua para sudeste até o Nepal, Sikkim (o estado menos populoso da Índia e o segundo menor depois de Goa) e Butão.
O Vale de Caxemira - onde, a 1.600 metros de altitude, se situa a capital Srinagar - estende-se ao longo do lado sul do Himalaia, suas terras férteis, onde o verde da natureza se revela em sua plenitude, local apropriado para a lavoura e a pecuária.

 Detalhe do canal de água 



Jardim do Forte de Bahu em Jammu 



Jardins dos miongóis: cascata numa bacia de mármore

Pouco povoada e geograficamente isolada, Caxemira nunca desempenhou papel político autônomo. Sempre fez parte dos reinados vizinhos. Assim, no século III a.C., pertenceu ao reino do grande  imperador mongol Ashoka, que dominou quase todo o subcontinente indiano.
Do século IV ao século VI de nossa era esteve sob o domínio dos Guptas, senhores do norte da Índia. Quando, depois de suas incursões iniciadas no século VIII, os invasores islâmicos procedentes da Pérsia e do Afeganistão fundaram, por volta de 1200, o Sultanato de Déli, Caxemira também fazia parte desse império. Em Srinagar, nada mais existe desta época. Entretanto, em 1526, o Sultanato foi substituído pelo domínio dos mongóis, descendentes de Gêngis-Kan e de Timur Lang (Tarmelão).
E os anos de 1550 a 1650 - em que reinaram os Imperadores Mongóis Akbar, Jahangir e Shah Jahan - viveram a maior glória do poder e da cultura mulçumanos na Índia: foi a época da construção do Taj Mahal (Shah Jahan) e das grandes fortalezas de Agra, de Déli e de Fatehpur Sikri, (cidade construída pelo imperador Akbar para ser a capital de Agra), tornando-se a corte dos imperadores e centro mundial das artes. E, durante esse período altamente civilizado, também Caxemira fazia parte da cultura palaciana: os imperadores gostavam de passar os meses de verão no clima refrescante de Srinagar, desfrutando também da sua paisagem incomparável e alí construíram suas casas de verão e os maravilhosos jardins que ainda hoje são a delícia dos visitantes.
Diversas mesquitas daquela época - de mútua tolerância, islâmica e hindu - enfeitam o panorama da cidade. Mas na segunda metade do século XVII, o filho de Shah Jahan, o Grão-Mogol Aurangzeb, muçulmano fanático, abandonou a política de tolerância religiosa dos seus antecessores. E a perseguição que moveu aos hindus, acompanhada da destruição de seus templos, criou uma oposição interna que minou o poder mongol.
Nas províncias mais longínquas surgiram movimentos separatistas, entre eles a rebelião dos Sikhis, adeptos de uma seita religiosa existente no Punjab desde o século XV. No fim do século XVII, os Shkhis conseguiram a independência do Punjab, e, em 1819, conquistaram Caxemira. Mas, 30 anos depois, tiveram de ceder aos ingleses que, numa lenta conquista do subcontinente, estabeleceram em 1849 a sua supremacia sobre o Punjab e Caxemira. A dinastia Sikhi ficou nominalmente no poder até 1947, mas o marajá era de fato controlado pelos ingleses.
A crescente resistência contra o domínio britânico, que culminou com a campanha de não-violência de Ghandi, forçou os ingleses, em 1947, a concederem a independência do país. Para evitar conflitos futuros entre as populações hindu e islâmica, resolveu-se dividir o subcontinente em dois estados: o Paquistão para os muçulmanos, a Índia para os hindus. Caxemira, com uma população predominante islâmica, devia pertencer integralmente ao Paquistão. O governo da Índia, porém, ocupou a maior parte da região. E, apesar dos protestos do Paquistão e da ONU, o território ocupado é hoje parte integrante da União Indiana, englobando o Estado de Jammu e a Caxemira. 

Vista do Vale de Caxemira

Shahi Garden, jardim com propriedades medicinais

Dargah Dastageer Sahab, antiga mesquita de Caxemira

O Mosteiro Phugtal, no sudeste de Zanskar.


Houseboat (casa flutuante) característica da região






Maria Helena Avena, jornalista da Relíquia,  nos jardins dos mongóis

A população dessa região, é constituída em sua maioria de muçulmanos, que se dedicam à cultura de cereais e frutas, à criação de ovinos e ao artesanato, incluindo os magníficos tapetes de seda e de lã, com os desenhos persas de secular consagração. A minoria hindu forma, desde os tempos de Akbar, uma elite intelectual. Nehru, um dos fundadores da Índia moderna - primeiro ministro durante muitos anos e pai da ex primeira-ministra, Indira Gandhi - era um Pandit (quer dizer, homem de letras) de Caxemira.

Nesta época, em dezembro, a neve já chegou, paralisando toda a região e expulsando os turistas, à exceção dos mais fanáticos adeptos dos esportes de inverno. As montanhas, banhadas de luz prateada, refletem-se nas águas congeladas do lago, onde ainda se pode ver as casas flutuantes (houseboat) que no verão recebem os banhistas, levados pelos shikaras. Ali eles mudam de roupa, nadam e tomam um banho de sol no terraço. É singular a história deste tipo de moradia em Caxemira. Como os estrangeiros eram proibidos por lei de possuir casas e terrenos no país, os ingleses, então, lembraram-se do sofisticado expediente já usado em sua pátria - as casas flutuantes, ou houseboat, nas quais os londrinos costumavam passar os seus fins-de-semana no Tâmisa, era a solução.
Desde fins do século XIX, o houseboat tornou-se uma instituição permanente da cidade, usado não apenas pelos ingleses mas também pelos indianos e outros turistas que querem passar algum tempo nesse local paradisíaco.
Os jardins dos mongóis, às margens do lago, é outra atração de Caxemira. Todos os grandes imperadores - Akbar, Jahan-gir, Shah Jahan, Aurangzeb - passaram o verão em Srinagar.  Obedecendo a uma paixão característica dos mongóis, cada um construiu a sua própria residência. São verdadeiras casas de verão, íntimas, leves e elegantes. O que dá ao conjunto a nota de um luxo realmente mongol são os magníficos jardins que acompanham cada residência imperial. O eixo da arquitetura do jardim é um canal de água que corre do centro da fachada da residência até o lago, sendo seu curso interrompido por bacias de mármore de onde ele continua a descer, formando pequenas cascatas. Os jardins islamicos se parecem com os jardins franceses do estilo de Versalhes. Mas o que dá aos jardins de Srinagar um tom especial é a grandiosidade  da paisagem, com as vistas sobre o lago e a montanha resplandecendo na transparente luz do Himalaia.
A capital Srinagar possui ruas estreitas, interrompidas por numerosos rios e canais com uma vida intensa de embarcações e houseboats. Numa colina acima da cidade, ergue-se a vasta fortaleza construída no século XVI por Akbar. Como cidade predominantemente islamica, Srinagar tem uma enorme mesquita, de construção severa e sem ornamentação. Mais encantadora é a mesquita Shar Hamadan, em forma de pagode. Acima de Srinagar, situado a 2.800 metros de altitude e dedicado aos esportes de verão e inverno, fica Gulmarg. O caminho que leva à cidade é todo flanqueado por árvores cujas folhas douradas brilham ao sol.
Anteriormente, Gulmarg serviu de estada de verão para o Oficial residente Britânico em Caxemira e seus colaboradores. Assim, o lugar oferece um aspecto altamente europeu: casas de estilo suíço, quadras de tênis e campo de golfe. Ao longe, parte integrante dessa paisagem maravilhosa, testemunha silenciosa de beleza deslumbrante, ergue-se imponente o “Nanga Parbat”, com seus 8.100 metros de altura, um panorama majestoso de montanhas cobertas de neve. Embora seja uma região em eterno conflito, a beleza das suas paisagens atrai turistas de todo o mundo, sendo uma das principais fontes de renda para vastos segmentos da população da Caxemira.

Por Max Nauenberg. Colaborou Maria Helena Avena.
Fotos: reproduções/ A Relíquia

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