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A imaginária brasileira
As primeiras imagens de devoção vieram ainda no século XVI, com os colonizadores portugueses. Durante um bom tempo, todas as peças que existiam na colônia haviam sido trazidas de Portugal e da Espanha, países da onde o barroco foi melhor reproduzido na forma de santos da igreja católica feitos em madeira. Depois da Contra-reforma, a Igreja passou a incentivar o culto às imagens para que os fiéis sentissem a presença do divino de forma mais viva, mas real, utilizando realmente os santos como intermediários entre os fiéis – que não tinham acesso a bíblia, pois não sabiam ler – e Deus. Não foi diferente no Brasil.
Nos séculos XVII e XVIII, com o aumento da demanda, deu-se início a uma produção interna de imagens de santos, da virgem e de anjos. Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, onde a presença da Igreja era forte, concentravam os principais artistas, tanto eruditos, como populares – os santeiros, e a produção era feita quase que em série. Já em Minas Gerais, devido a forma de povoamento, em vilas e arraiais, e ao isolamento em relação aos portos no litoral, o catolicismo se consolidou de forma bastante natural, pela procura e necessidade de devoção dos fiéis. Entre os produtos de consumo imediato, demanda atendida pelos artesãos locais, estavam as imagens religiosas. O resultado foi uma variedade infinita de formas. Ao contrário da imaginária baiana, padronizada, as peças mineiras carregavam as marcas de seus artesãos autodidatas. O estabelecimento de ordens e confrarias na segunda metade do século XVIII também ajudou a popularizar a busca por santos de devoção.
Surgiram os grandes mestres – Francisco Xavier de Brito, Aleijadinho, Mestre de Piranga, Vieira Servas – e as imagens barrocas brasileiras ganharam fama internacional. Com isso, veio a problemática da preservação. Durante séculos nada foi feito para conservar esse patrimônio. As peças de arte sacra, que antes só possuíam valor religioso, começaram a ter valor material e por isso, deixaram de ser tidas como sagradas. Imagens passaram a ser roubadas de igrejas e até dos oratórios em casas de família. Mesmo com os sucessivos tombamentos instituídos após a criação do serviço de Patrimônio Histórico na Era Vargas, pouca coisa foi feita e grande parte dos templos dos séculos XVIII e XIX estão em ruínas. A dispersão desse rico acervo dos seus locais de origem, fundamental para compreensão histórica, cultural, artística e religiosa de uma época, foi inevitável. Mesmo com a existência de 46 museus de arte sacra – apenas cinco deles de grande porte – a maioria das antigas imagens está nas mãos dos colecionadores particulares.
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